A surpreendente decisão de Donald Trump de designar o secretário de Estado Marco Rubio como interlocutor para negociar com o governo brasileiro elevou o tom diplomático entre Brasil e Estados Unidos a um novo patamar. Rubio, aliado forte do bolsonarismo nos EUA, tem relações estreitas com o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e já criticou membros do Judiciário brasileiro, como o ministro do STF Alexandre de Moraes.
Videoconferência e imposições
Na manhã de segunda-feira (6), Lula conversou por 30 minutos com Trump em videoconferência, onde solicitou, entre outras coisas, a retirada das tarifas de até 40 % impostas sobre produtos brasileiros e o levantamento das sanções contra autoridades nacionais. Em resposta, o presidente estadunidense optou por atribuir a continuidade das tratativas a Rubio, em vez de dialogar mais diretamente com Lula.
Do lado brasileiro, foram convocados para o contraponto diplomático nomes como Geraldo Alckmin, Fernando Haddad e Mauro Vieira. A escolha de Rubio para este papel sinaliza — por parte dos EUA — que qualquer reaproximação com Brasília passará por meios alinhados à ala conservadora brasileira, aquele que historicamente foi defensor do governo Bolsonaro.
Rubio: sombra bolsonarista influente
Marco Rubio é visto como figura simbólica dessa nova intermediação: ele declarou publicamente seu descontentamento com o ministro Moraes, classificando-o como “descontrolado” e crítico de excessos do Judiciário.
Rubio atuou ainda para revogar vistos de juízes brasileiros que participaram da condenação de Bolsonaro sob a justificação de violação de direitos humanos e “perseguição política”.
Esse movimento configura uma estratégia de Trump: apresentar Rubio como ponte política entre seus interesses e facções conservadoras no Brasil, forçando que parte da negociação econômica ocorra por meio dessas redes de influência.
Litigiosidade diplomática e pressões cruzadas
A imposição de Rubio torna ainda mais evidente que uma eventual reversão do “tarifaço” dependerá de concessões políticas e gestos que atendam a interlocutores alinhados com a oposição interna. Os EUA já impuseram tarifações de até 50% sobre produtos brasileiros, em resposta a decisões envolvendo o ex-presidente Bolsonaro e acusações relativas ao tratamento das instituições brasileiras.
No Brasil, a crise diplomática é apontada como uma das mais sérias entre os dois países nos últimos tempos, com acusações recíprocas de intervenções políticas, uso da Lei Magnitsky contra autoridades brasileiras e ameaça à soberania nacional.
Consequências (e riscos) para o Brasil
- O governo brasileiro corre o risco de perder protagonismo diplomaticamente, obrigado a mediar negociações por meio de figuras que hoje apoiam a oposição.
- A credibilidade institucional do país poderá ser abalada: aceitar interlocutores identificados com oposição dentro da própria política doméstica complica sutilezas jurídicas e simbólicas.
- O “tarifaço” pode se tornar moeda de troca política, não apenas negociável por medidas comerciais, mas condicionado a recuos ou concessões institucionais.
- A polarização interna — entre esquerda e direita — tende a ganhar terreno nos bastidores diplomáticos, com possíveis pressões sobre poderes e agentes públicos.
Se o Brasil não reagir com firmeza institucional, poderá ver sua soberania negociada em dispersos canais de influência — e isso, historicamente, abre caminho para crises maiores.

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