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A GRANDE MÍDIA MENTIU MAIS UMA VEZ, PORÉM NÃO RECEBEU SELO DE “FAKE NEWS”

 
Por Letícia Alves
Grandes jornais não só deturparam declaração do ministro Paulo Guedes como inventaram uma frase nunca dita para prejudicar sua reputação
A criação e ascenção das "agências de checagem" consolidou, ao menos no Brasil, a liberdade da grande mídia de mentir. Enquanto veículos conservadores são bloqueados das redes sociais e tachados de fake news por um ou outro erro — frequente no trabalho de apuração jornalística —, os jornais tradicionais inventam e distorcem à vontade. 
Há inúmeros exemplos de grandes mentiras todas as semanas. O BSM escolheu um caso para mostrar como é a mídia, e não as "tias do zap", a grande produtora de fake news no Brasil.
Na última terça-feira (27), uma declaração do ministro da Economia Paulo Guedes foi gravada em uma conversa informal com os ministros da Saúde, Marcelo Queiroga, e da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, durante a reunião do Conselho da Saúde Suplementar (Consu). 
Na ocasião, Guedes contou um caso ocorrido com o filho do seu porteiro. As aspas foram divulgadas pelo jornal Estadão, que não disponibilizou o áudio. Sem saber que estava sendo gravado, o ministro disse, segundo o veículo: “O porteiro do meu prédio, uma vez, virou para mim e falou assim: 'Seu Paulo, eu estou muito preocupado'. O que houve? 'Meu filho passou na universidade privada'. Ué, mas está triste por quê? 'Ele tirou zero na prova. Tirou zero em todas as provas e eu recebi um negócio dizendo: parabéns, seu filho tirou...' Aí tinha um espaço para preencher, colocava 'zero'. Seu filho tirou zero. E acaba de se endereçar a nossa escola, estamos muito felizes”.
A manchete escolhida pelo jornal, e copiada pelos outros grandes veículos, foi a seguinte: Guedes diz que Fies bancou universidade até para "filho de porteiro que zerou o vestibular". Com aspas mesmo, como se a frase tivesse saído dessa maneira da boca do ministro. 
A declaração, que foi gravada sem que Guedes soubesse — e que não foi divulgada, diga-se de passagem —, não foi simplesmente deturpada; mais do que isso, o trecho em questão foi inventado. Simples assim, como se o jornalista fosse um escritor de ficção a construir o diálogo mais impactante de seu futuro romance best-seller.
Já sabendo o que encontraria, abri os sites da Agência Lupa (Folha de São Paulo), Fato ou Fake (G1) e Aos Fatos. Nada. Nenhuma menção à frase inventada. Isso porque os próprios veículos replicaram a manchete descarada, como se a mentira já fosse verdade incontestável. 
Sorte a de vocês que a jornalista que vos escreve já atuou em uma agência de checagem de notícias falsas e recebeu todo o treinamento para desmentir matérias como essa. Abaixo, enumero o que seria considerado pelos jornalistas dessas agências se elas fossem sérias:
1. A falta da gravação
Quando não se tem certeza da veracidade de uma declaração, o primeiro passo é buscar a fala na íntegra em vídeo ou áudio. Nesse caso, o jornal não disponibilizou a gravação, então seria necessário entrar em contato com o próprio ministro para que ele comprovasse a fala.
O jornal O Globo ligou para Guedes, que confirmou que conversou sobre o assunto, mas disse que não foi bem assim: "Eu dei um exemplo de uma caça-níqueis privada que aprovou alguém com média zero e possivelmente foi a base do Fies. Não tem nada a ver com filho de porteiro. O filho de porteiro foi um exemplo de uma pessoa humilde que me consultou preocupada com a qualidade da educação do filho". Aproveitamos esse esclarecimento para passar para o próximo ponto.
2. Análise gramatical
Digamos que o Estadão transcreveu a fala completa tal qual ela foi dita. Mesmo assim, há uma diferença monumental entre os significados das expressões "o filho do porteiro do meu prédio", dita por Guedes, e "filho de porteiro", usada na manchete.
No primeiro caso, temos a preposição "de" seguida do artigo definido "o". Seu uso traz a ideia de algo conhecido, que foi especificado: "O porteiro do meu prédio". Já o uso da preposição "de" sem a contração com o artigo traz o significado inverso, pois trata-se de algo generalista, que diz respeito a um grupo e não a alguém específico: o grupo dos filhos de porteiros. 
Sem mais delongas, enquanto "o filho do meu porteiro" tem nome e sobrenome e uma história individual — ele tirou zero e mesmo assim foi aprovado em uma universidade particular —, "filho de porteiro" tem o peso de estar se referindo a toda uma classe, como se todos os filhos de porteiro tirassem zero no vestibular e todos fossem aprovados em universidades mesmo assim.
Ora, se isso não é uma distorção clara da declaração de Guedes, o que mais seria? Foi exatamente essa a intenção dos jornais, transformar Guedes em alguém que não quer que os "filhos de porteiros", representando os menos favorecidos, ingressem no Ensino Superior. Aquela velha ladainha esquerdista de que a direita é composta por privilegiados que não gostam que as empregadas andem de avião e seus filhos ganhem um diploma. 
Ao ler a fala do ministro, no entanto, fica claro que ele estava usando um exemplo bem específico, provavelmente verdadeiro, para falar como o Fies pode estar sendo usado por algumas universidades privadas para lucrar sem a preocupação com a qualidade do processo seletivo. Não há uma generalização nem sobre os filhos de porteiros, nem sobre as universidades e nem mesmo sobre o Fies. 
Na agência de checagem onde eu trabalhei durante as eleições de 2018, nós classificaríamos essa matéria com o selo de "conteúdo enganoso". Ou seja, a declaração integral não foi completamente inventada, já que houve uma conversa nesse sentido que foi confirmada pelo ministro, mas as palavras foram tiradas de contexto e deturpadas de modo que seu significado sofreu alterações, com a intenção deliberada de causar danos (nesse caso, à imagem de Guedes e ao governo de Jair Bolsonaro). 
E assim concluímos o primeiro fact-checking do BSM
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