A Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA) aprovou nesta quarta-feira (18) o Yeztugo (lenacapavir), primeiro medicamento injetável de ação semestral para a prevenção do HIV. Desenvolvido pela Gilead Sciences, o novo fármaco representa um marco na luta contra a epidemia global do HIV, que já perdura há mais de quatro décadas.
Aplicado apenas duas vezes por ano em clínicas especializadas, o Yeztugo mostrou uma eficácia impressionante nos estudos clínicos: entre 89% e 96% de redução no risco de infecção por HIV, dependendo do grupo avaliado. Entre mulheres cisgênero da África Subsaariana, a eficácia chegou a 100%. Nenhuma participante foi infectada durante o estudo. Já em outras regiões, como EUA, Brasil, Argentina e Tailândia, o índice de proteção se manteve acima de 96%.
O lenacapavir age de maneira diferente dos demais medicamentos: ele bloqueia a cápside do vírus, impedindo que o HIV infecte células do sistema imunológico. Essa inovação permite a superação de um dos maiores desafios da profilaxia: a baixa adesão a tratamentos diários com comprimidos, como o Truvada e o Descovy, também da Gilead.
“Este é um momento transcendental. O Yeztugo tem o potencial de mudar o curso da epidemia e levá-la para os livros de história”, declarou o CEO da Gilead, Daniel O’Day.
Apesar do entusiasmo, o custo do novo medicamento pode ser um obstáculo. Cada dose será vendida por US$ 14.109 (cerca de R$ 76 mil na cotação atual). A Gilead afirmou que oferecerá programas de assistência para garantir acesso gratuito a pessoas de baixa renda sem seguro e até US$ 7.200 por ano em ajuda para segurados.
Outro desafio é logístico: a efetividade da nova profilaxia depende de duas consultas anuais — algo que, em muitos casos, não é garantido. Segundo o CDC, menos da metade dos usuários da PrEP oral mantém a medicação por mais de seis meses.
O Yeztugo se junta a outras opções já aprovadas, como o injetável bimestral Apretude (da ViiV Healthcare) e as versões orais diárias. No entanto, a chegada da versão semestral traz uma alternativa especialmente relevante para populações com baixa adesão e risco elevado de infecção — como homens gays e bissexuais negros e latinos nos EUA, onde a maioria dos novos casos de HIV ainda ocorre no Sul do país.
Globalmente, mais de 1 milhão de pessoas são infectadas com HIV todos os anos. A OMS estima que seriam necessários ao menos 10 milhões de usuários de PrEP para conter a epidemia, mas hoje apenas 2,5 milhões têm acesso. A aprovação do Yeztugo pode ser um passo decisivo para mudar esse cenário.
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