O ritmo de expansão dos gastos federais no terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva está muito acima do crescimento das receitas do governo. Segundo dados da Instituição Fiscal Independente (IFI), do Senado, e do Tesouro Nacional, o aumento nas despesas já soma R$ 344 bilhões desde o início do atual governo, enquanto a receita líquida cresceu R$ 191,3 bilhões no mesmo período — ou seja, os gastos avançam em ritmo quase duas vezes maior.
Com base nas projeções oficiais, a despesa total do governo federal deve atingir R$ 2,415 trilhões em 2025, enquanto a arrecadação líquida esperada é de R$ 2,318 trilhões. O cenário aponta para um déficit primário — que desconsidera os gastos com juros da dívida — estimado em R$ 180 bilhões, ou 0,77% do Produto Interno Bruto (PIB), já considerando o pagamento de precatórios.
Apesar disso, o governo Lula mantém uma previsão oficial bem mais otimista, de déficit de R$ 29,6 bilhões até o fim do ano. O mercado financeiro, por sua vez, projeta um resultado intermediário: cerca de R$ 75 bilhões negativos, segundo estimativas colhidas pelo Ministério da Fazenda em março.
Colapso fiscal previsto para 2027
De acordo com a equipe econômica do governo, o atual padrão de crescimento das despesas tende a se manter em 2026, o que pode levar o país a um colapso fiscal a partir de 2027. O termo utilizado internamente é "shutdown", um cenário de paralisação da máquina pública por falta de recursos para custear despesas básicas de funcionamento.
O governo tem apostado em medidas de aumento de arrecadação para tentar conter o avanço do rombo fiscal, intensificando a cobrança de impostos e criando novos instrumentos de fiscalização. No entanto, os dados indicam que, até o momento, essa estratégia não tem sido suficiente para equilibrar as contas.
Fontes ouvidas pela Folha de S.Paulo, responsável pelo levantamento dos números em parceria com o Tesouro e a IFI, apontam que o governo estaria adiando decisões estruturais e empurrando o problema para a próxima gestão.
Alerta para sustentabilidade fiscal
O descompasso entre arrecadação e despesas acende o sinal de alerta sobre a sustentabilidade fiscal do país. Com a dívida pública em crescimento e sem uma reforma estrutural de gastos no horizonte, o Brasil pode enfrentar maiores dificuldades para financiar políticas públicas, manter investimentos e sustentar programas sociais nos próximos anos.
O cenário econômico reforça a pressão sobre o Ministério da Fazenda, que busca, sem sucesso até agora, entregar metas fiscais mais robustas e compatíveis com o novo arcabouço fiscal aprovado em 2023.
0 Comentários
Obrigado pela sugestão.