O cenário geopolítico internacional ganhou novos contornos de tensão nesta quarta-feira (15), após o secretário-geral da OTAN, Mark Rutte, alertar que países como Brasil, China e Índia poderão ser alvo de sanções secundárias caso mantenham suas relações comerciais com a Rússia.
A declaração foi feita durante uma audiência no Congresso dos Estados Unidos, um dia após o presidente Donald Trump anunciar novas sanções contra Moscou, incluindo uma tarifa de 100% sobre produtos russos. Trump também reforçou que pretende aplicar uma tarifa de 10% sobre os países do BRICS, bloco que inclui o Brasil, sob o argumento de que seus membros tentam minar a hegemonia do dólar.
“Se Putin não demonstrar compromisso com um acordo de paz nos próximos 50 dias, sanções secundárias serão aplicadas contra países como Brasil, China e Índia”, disse Rutte.
“Minha sugestão é que esses países reflitam sobre isso, pois pode atingir muito forte suas economias.”
O que são sanções secundárias?
As sanções secundárias são punições direcionadas a países ou empresas que, mesmo não envolvidos diretamente em um conflito, mantêm relações comerciais com nações sob sanção primária — no caso, a Rússia. Isso significa que empresas brasileiras podem ser penalizadas por exportar ou importar produtos ligados à economia russa.
O alerta da OTAN amplia a ofensiva econômica ocidental contra Moscou, que já enfrenta bloqueios financeiros, embargos e restrições comerciais desde o início da guerra na Ucrânia, em 2022.
RICS na mira
As críticas à atuação do Brasil se intensificaram após a última cúpula do BRICS, realizada no início de julho no Rio de Janeiro. O encontro, liderado por Luiz Inácio Lula da Silva, discutiu a desdolarização do comércio internacional e a criação de canais financeiros alternativos, o que foi interpretado por Washington como um desafio direto à moeda americana.
Além disso, o Brasil manteve a neutralidade diplomática diante do conflito entre Rússia e Ucrânia, defendendo soluções pacíficas, mas sem romper relações comerciais com o governo de Vladimir Putin.
Trump, por sua vez, tem endurecido o discurso contra o bloco. Na semana anterior, prometeu impor uma tarifa automática de 10% a qualquer país integrante do BRICS. Em declarações públicas, acusou o grupo de tentar sabotar o dólar, classificado por ele como a “moeda rei”.
Riscos para o Brasil
Especialistas em comércio internacional alertam que o Brasil pode ser diretamente impactado caso os EUA ou seus aliados da OTAN cumpram as ameaças. Exportações de setores estratégicos — como agronegócio, mineração e indústria de fertilizantes — podem ser atingidas, gerando perdas bilionárias e desestabilização em cadeias logísticas globais.
Ao mesmo tempo, analistas veem nas declarações de Trump e Rutte uma tentativa de impor uma nova ordem geopolítica baseada em alianças comerciais e ideológicas, pressionando países emergentes a se alinharem ao Ocidente sob risco de punições econômicas.

0 Comentários
Obrigado pela sugestão.