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Narcosubmarinos não tripulados desafiam forças de segurança e revelam avanço tecnológico do crime organizado

 
Por Luiz Fernando Ramos Aguiar
Uma nova tecnologia pode representar mais um obstáculo no já difícil combate ao narcotráfico internacional. Na última quarta-feira (02), a Marinha da Colômbia registrou a primeira apreensão de um narcosubmarino não tripulado no mar do Caribe. Embora a embarcação estivesse vazia, as autoridades acreditam que se tratava de um teste de navegação antes da utilização efetiva para transporte de drogas.
Com capacidade para transportar até 1,5 tonelada de cocaína, o veículo estava equipado com uma antena da Starlink, o que permitiria sua operação à distância. Essa inovação elimina a necessidade de tripulação, ampliando as rotas possíveis e dificultando a atuação das forças de segurança. Os traficantes, agora, não precisam mais acompanhar fisicamente o deslocamento das cargas.
O uso de submarinos para o tráfico já é conhecido, inclusive entre facções brasileiras. Em uma operação recente, as forças de segurança de Portugal interceptaram uma embarcação submergível com mais de seis toneladas de cocaína. O submarino, com mais de 18 metros de comprimento, foi abordado a cerca de mil quilômetros ao sul do arquipélago dos Açores. Entre os cinco tripulantes, três eram brasileiros: Nelson de Pascoa Corrêa (61), José Mauro Gonçalves (52) e Maikon Reais da Silva (38). Segundo autoridades portuguesas, a embarcação estaria ligada ao Primeiro Comando da Capital (PCC).
A utilização desses “mini-submarinos” representa uma evolução tecnológica em relação à antiga tática de soldar compartimentos com drogas nos cascos de navios atracados em portos brasileiros — como o de Santos. Apesar de eficaz, essa técnica demanda mergulhadores especializados, é arriscada e tem alto custo operacional.
Já os narcosubmarinos, especialmente os não tripulados, oferecem uma série de vantagens: dispensam acomodações, alimentação ou provisões humanas, o que permite viagens mais longas e arriscadas. Se interceptados, não há pessoas a bordo para serem presas ou interrogadas — a perda é apenas material, dificultando quase completamente a identificação e responsabilização dos envolvidos.
Essas embarcações operam pouco abaixo da linha da água, com cascos de fibra de vidro e design de baixo perfil, o que as torna praticamente invisíveis a radares e sonares convencionais. De acordo com a Marinha Colombiana, o veículo apreendido pertenceria ao Clã do Golfo, maior cartel colombiano da atualidade.
A consolidação dessa nova tecnologia representa um desafio imenso para os governos e agências de segurança. Será necessário rever protocolos, adaptar tecnologias e desenvolver soluções eficazes para combater uma ameaça que já opera em vantagem estratégica. Além disso, o uso de veículos não tripulados abre margem para manobras como o “boi de piranha” — tática em que cargas menores são deliberadamente expostas para distrair as forças de segurança e garantir o escoamento de carregamentos mais valiosos por outras rotas.
A verdade é que o crime organizado se adapta com velocidade, investe em inovação e supera as estruturas estatais, frequentemente lentas, burocráticas e amarradas a interesses políticos. O Relatório Mundial sobre Drogas da UNODC (2023) aponta que 67% da produção global de folha de coca está na Colômbia — e mesmo com esse dado, não há políticas eficazes para reduzir as áreas de cultivo.
Essa omissão se repete em diversos níveis de governo, que sacrificam seus agentes de segurança pública em uma guerra assimétrica, marcada pela corrupção e pela cooptação de autoridades. Enquanto isso, cartéis e facções ampliam seu poder bélico, político e tecnológico.
O enfrentamento ao narcotráfico precisa ir além da apreensão de carregamentos e patrulhamento de fronteiras. É necessário atacar o coração das organizações criminosas: prender lideranças, desmontar redes de influência, cortar o financiamento e enfraquecer os sistemas de produção. Caso contrário, a guerra contra as drogas seguirá sendo vencida — e modernizada — pelo crime.

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