Pela primeira vez na história, o Brasil enviará oficiais-generais para servir como adidos militares na embaixada brasileira em Pequim. A decisão, oficializada por decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quebra uma tradição de décadas em que apenas os Estados Unidos recebiam representantes de tão alto escalão militar para tratar de assuntos de defesa.
Foram nomeados um oficial-general do Exército para o cargo de Adido de Defesa e do Exército, um contra-almirante da Marinha como Adido Naval e um coronel da Aeronáutica como Adido Aeronáutico, além de adjuntos de apoio para essas funções. Esses adidos terão a missão de representar as Forças Armadas brasileiras junto ao governo chinês, negociando cooperação militar, acompanhando avanços tecnológicos e monitorando o setor de defesa.
O gesto ocorre em um momento de evidente reaproximação política e militar entre Brasil e China, ao mesmo tempo em que a relação com os EUA vive tensão — agravada recentemente pelas sobretaxas de 50% impostas a produtos brasileiros pelo governo norte-americano. Embora o Planalto evite admitir ligação direta entre os fatos, o contexto geopolítico é claro: o Brasil sinaliza maior alinhamento com Pequim em plena disputa global por influência estratégica.
Críticos veem na medida um risco à soberania nacional, lembrando que a China é um dos países mais ativos em operações de inteligência e ciberespionagem no mundo, além de manter um modelo de Estado e forças armadas centralizadas e subordinadas ao Partido Comunista Chinês. Há receios de que a proximidade excessiva na área de defesa possa expor dados sensíveis, tecnologias militares e estratégias de segurança nacional.
O debate não é sobre a importância de manter boas relações com a China — parceiro comercial relevante —, mas sobre os limites dessa parceria, especialmente quando envolve cooperação militar de alto nível. Na prática, o Brasil dá um passo inédito e, para muitos, arriscado, que poderá ter reflexos diretos no seu posicionamento internacional nos próximos anos.

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